quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

"Cândidas virilhas delicadas..." Bocage

Um poeta que dispensa elogios, cuja obra apenas recentemente descobri e da qual aqui deixo uma pequena amostra:

Despedidas ao Tejo

Não mais, ó Tejo meu, formoso e brando,
À margem fértil de gentis verdores,
Terás d'alta Ulisseia um dos cantores
Suspiros no áureo metro modulando:

Rindo não mais verá, não mais brincando
Por entre as ninfas, e por entre as flores,
O coro divinal dos nus Amores,
Dos zéfiros azuis o afável bando:

Coa fronte já sem mirto, e já sem louro,
O arrebata de rojo a mão da Sorte
Ao clima salutar, e à margem de ouro

Ei-lo em fragas de horror, sem luz, sem norte,
Soa daqui, dali piado agouro;
Sois vós, desterro eterno, ermos da morte!




Sem título - Sonetos Eróticos

Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia - o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade,

Não quero funeral comunidade,
Que engrole sub-vemites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade.

Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

"Aqui dorme Bocage o putanheiro:
Passou vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu, sem ter dinheiro".

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